tarde de solidão...

Fiquei pensando de onde veio aquela senhora que pendurou seus panos ali na praça.
Colocou uma corda de uma árvore a outra e pendurou tudo, depois de usar o arroio como tanque. Parecia que estava no pátio da sua casa. E estava. Já que na rua era sua casa. Não tinha visto ela ainda por ali. Teria vindo tentar a vida na capital? Talvez sim, quando mais jovem, mas parecia que fazia algum tempo que morava assim, de praça em praça, de baixo de alguma ponte. Quem sabe fecharam sua ponte e ela estava em busca de um novo lugar? Quem sabe?
Sentou-se no banco da praça e deixou do seu lado um carrinho, daqueles de supermercado, com algumas roupas. Era tudo o que ela tinha. O carrinho, alguns panos, poucas roupas e pelo seu jeito, muitos anos de dor.
Era um dia bem quente, como todos deste verão de Porto Alegre.
Ela tinha um lenço azul na cabeça que escondia os seus fios brancos. O seu rosto uma expressão de cansaço. Seus olhos fundos estavam tristes. Talvez uma tristeza acumulada por anos de solidão, fome, preconceito e falta de oportunidades. Ou talvez, por abandono da família. Quem sabe?
Olhando naquele momento pra ela não sabia ao certo se ela estava cansada da vida ou se estava ali sentada, esperando a vida passar na frente dos seus olhos fundos. No que será que ela pensava? Esperava alguma coisa da vida?
Trabalhei a tarde inteira e na hora de ir embora, passei por ela de novo. Ela já tinha mudado de praça agora, estava com os panos, antes pendurados, no seu carrinho. O rosto, agora parecia ainda mais cansado. Ela se embalava, pra frente e pra trás como se estivesse em um balanço. Olhava fixo pro nada. Quantos dias ela passou nesta desolação? Será que ela tinha se alimentado naquele dia todo?
O calor continuava e ela tinha mais roupas sobre seu corpo. Estava sem o lenço na cabeça, agora ela levava em suas mãos para enxugar suas lagrimas que caiam de seus olhos fundos e tristes.

Comentários

Anônimo disse…
aqui na rua da praia tem mais ação.

aos domingos há uma senhora que lava roupas numa grande lata, enquanto um um rapaz pede dinheiro para as pessoas.

Uma vez ele teve um ataque de raiva e ficou gritando e batendo nas coisas enquanto ela xingava-o sem parar.
Camu disse…
É Graziana, a realidade anda cada vez mais triste,né?
Eu tb costumo olhar as pessoas e pensar em como é e foi a história da vida delas...
Beijoca
Vini disse…
putz! juro q qdo tu começou a falar de cordas: "Colocou uma corda de uma árvore a outra e pendurou tudo" achei q a senhora havia se enforcado e tu tinha presenciado tudo
:)
Lu disse…
Finalmente..tô tentando comentar há dias e não consigo...sei lá, acho que a banda larga lá de casa se perdeu de tão larga...he,he,he

Grazi, também já vi esta senhora inúmeras vezes bem como outros tantos mendigos que ficam aí pelas ruas. tem um menino que dorme sempre na calçada da borges perto da confeitaria Mateus. Dá uma pena, uma tristeza, principalmente pq somos muito impotentes, sem quase nada a oferecer ou ajudar. Poucas vezes damos umas moedinhas e é só. Confesso, sempre que posso dou moedas sim. Se vão usar pra comer ou comprar cola, prefiro não pensar.... fico com pena e dou.

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