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desafio

A questão do tempo ou a falta dele é assunto em diversas rodas. Desde a conversa da filha com a mãe no ônibus, explicando que não tem tempo pra alguma tarefa, até a discussão do tempo que cada um tem, em sala de aula.

Quem faz planejamento sabe trabalhar com longos e pequenos prazos. Em comunicação, somos acostumados a trabalhar com tempo curto para realizar ações. As estratégias traçadas acabam gerando resultados em longo prazo. Como costumo dizer, trabalho de relações públicas, é um trabalho de formiguinha. O que eu planejei no inicio do semestre, agora passa a gerar resultados.

E cada um tem o seu tempo, sua idéia de tempo, suas expectativas. Cada um funciona com seu próprio relógio.Há aqueles que não suportam aguardar um minuto e outros que não se importam em esperar.

Há mais ou menos um ano o senhor Luis, que é líder na Vila Chocolatão,procurou a Escola de Administração pedindo ajuda. Passei quase uma hora, mais ouvindo do que falando com ele. Desde o primeiro dia que eu conversamos fiquei impressionada com sua inteligência, sua vivência, com suas idéias, com seu apelo.

Ele foi lá doar parte do seu tempo porque tem o sonho de mudar a realidade daquelas pessoas que são seus vizinhos. Ele poderia estar trabalhando, vendendo papel, plástico, mas não, resolver ir até lá, perder seu tempo, buscando uma saída. Me disse ele: Não concordo com este sistema, não quero ser escravo! Não é possível que a gente não possa sobreviver fora deste esquema?

No mesmo dia conversei com algumas pessoas, procurei reunir um grupo para atendermos o apelo do senhor Luis. Hoje, finalmente, fomos lá na Vila Chocolatão. Conhecemos as pessoas, ouvimos, apresentamos nossas idéias, trocamos as primeiras impressões.

Para aquelas pessoas, a espera pela ajuda foi grande. Pra nós, fomos o mais rápido que conseguimos. Tivemos pouco tempo para nos reunirmos, por causa da falta de tempo de todos, mas conseguimos iniciar o projeto.

Reunião para nós é muito comum, para os moradores do Chocolatão não. Ficar parado ouvindo e falando é perder tempo. Sim, ao invés de parar pra ouvir, eles podem ir com seus carrinhos buscar mais resíduos para vender, eles precisam comer hoje à noite, eles e seus filhos.

Pra eles as soluções precisam ser imediatas. Passam o dia trabalhando para comer à noite. Mesmo assim oferecemos um trabalho de formiguinha pra eles. Podemos ensina-los a administrar a cooperativa de catadores de resíduos, ser interlocutores entre Prefeitura e a Vila, organizar as mulheres para prestarem serviços domésticos. Podemos ouvi-los, conhecer os problemas e procurar soluções para eles. Isso tudo não traz soluções imediatas, como necessitam, mas é necessário. O assistencialismo é o que eles conhecem e procuram. Precisam comer, querem uma cesta básica de alimentos. O tempo é curto, a fome é grande.

Precisamos explicar que com o tempo as coisas vão melhorar, mas como dizer pra quem esperou toda a vida por uma oportunidade, pra esperar mais um tempo. Como explicar que as ações que vamos começar hoje darão resultados sim, mas não amanhã, pra quem precisa colocar comida na mesa, alimentar sua dezena de filhos. Como entender o tempo urgente deles, pra quem é acostumado com prazos longos, planejamento. Estes são alguns desafios presentes neste projeto, de vários que ainda virão.

E tudo levará um tempo. Talvez curto, mas com certeza não tão curto como gostaríamos, como deveria ser. Ver aquelas crianças brincando com o lixo, sem ter direito onde morar, o que comer e vestir. Ver aquelas pessoas sem a mínima condição de higiene, sem banheiro e esgoto é revoltante.

Nunca entendi porque algumas pessoas podem ter tudo e outras não ter direito a nada. A Prefeitura tem um trabalho há dois anos lá e eu fiquei me perguntando qual foi o trabalho deles, porque lá não há a mínima condição para viver.

Temos um desafio pela frente. Temos que pedir pra que eles esperem mais um pouco pra colher os frutos lá na frente. E esperar não é fácil. Eu mesma tive que aprender a esperar.

Mas a vida é mais ou menos assim. Precisamos ter paciência, persistência, correr atrás, para viver nossos sonhos, alcançar os nossos objetivos ... tudo a seu tempo.

Comentários

Camu disse…
Nossa! Achei o máximo!
Achei muito legal o que vcs estão fazendo e achei maravilhoso logo cedo ler o seu post. Terei um dia melhor por isso!
Paciência realmente se aprende... não tem o que fazer...
Ótimo dia pra vc também!
Beijoca
*



é surpreendente o contraste entre a miséria estúpida dessa vila e o prédio modernoso do chocolatão e de todos os outros em volta.
é gritante o contraste.

parabéns, Grazi.
tiro o chapéu pra quem acha tempo pra fazer.
e fazer sem ganhar nada além do prazer de ajudar.



*
Lu disse…
O prédio do Ministério Público está ali, estalando de novo.
Noooossa.Que bom Grazi que ao menos deram o ponta-pé inicial. Mas não é fácil, leva muito tempo até dar tudo certo e geralmente quem precisa, precisa pra ontem, não pode esperar. Mas este cara é persistente, não desistiu de ir lá na escola, até conseguir. Parabéns pra ele que não desistiu de lutar pela comunidade e pra ti que nunca desistiu dele.

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