Pular para o conteúdo principal

chega de saudade...

Conviver com a saudade de alguém já me pareceu mais difícil. No inicio ela nos aperta, dói, desanima, depois ela vai se tornando uma companhia, fica ali num cantinho, você vai se acostumando com a presença diária e vira rotina. Todo dia, tudo sempre igual... mais ou menos né, porque há sempre uns dias em que a saudade faz questão de cutucar mais. A gente se pega pensando no que o outro está fazendo, onde ele está andando, ou ainda o que ele está sentindo, se saudade também... no meio do trabalho, sai do ar, se desconcentra e quando percebe (ops!) esta viajando enquanto o telefone toca...

Mas, com o tempo, você passa a ficar tranqüilo, já sabe que o outro está lá, em algum lugar, mas que também está com saudade. Você sabe que o outro gosta de você com a mesma intensidade, e está longe, pelo menos por enquanto. Só que é estranho, a vida parece que fica como “em espera”.
A gente vai vivendo um de cada lado, ainda sem saber ao certo como seria a vida dos dois no mesmo lado, mas vai sonhando com isto. A gente vai levando... trabalhando, encontrando os amigos, fazendo os programas que gostaria de fazer com o outro, separado. Tudo que gostaria de viver com o outro fica em espera...

Quando juntos, tudo é sempre intenso, quase tudo que gostaríamos de fazer e não fizemos enquanto estávamos longe é feito. Quase tudo, porque o tempo não ajuda, você também tem que dividir sua saudade com a dos outros. Às vezes não é possível ficar numa ilha deserta, com o outro, somente com a companhia do vento, dos pássaros e do sol.

A vida, quando juntos, se parece como um sonho, daqueles bons, perfeitos. Só não é igual porque ainda há a certeza da despedida, os dias de convivência vão chegando ao fim. Então reaparece saudade de tudo que poderíamos estar vivendo hoje, amanhã e depois e que sabemos que ainda não será possível, porque estaremos cada um de um lado novamente.

O ciclo reinicia, a saudade volta espremendo, doendo. Volta pro cantinho, vira rotina novamente. Ela passa os dias nos lembrando o quanto é bom não conviver com ela, nos cutucando e mostrando que a vida é agora, que deixá-la em espera, talvez, não seja a melhor escolha.

Comentários

ninguém disse…
Que bonito este texto, Ziana! E vou te contar, aqui, do alto dos meus 55 anos: saudade é muiiiiito bom, quando tem um bom motivo. Curte e, na hora do reencontro, recarrega as baterias. Vale a pena.
bj
Clélia Riquino disse…
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

Clarice Lispector
[extraído do livro Aprendendo a viver, Editora Rocco, 2004]

bjão, Gra
Clé

ET: Tem Chico no Achados. Dê um pulinho lá...
Clélia Riquino disse…
Transcrevi, tempos atrás, um texto legal da Ana Miranda sobre saudade. Chegou a lê-lo?
Coincidência: meus post de hoje também é sobre saudade. E é mais ou menos assim como vc disse mesmo. Ela não desaparece. Fica num cantinho do quarto da memória e as vezes dá uns pulos pra chamar a atenção.
Gostei do seu blog!
Abraços!
Anônimo disse…
Ei Grazi, been there, done that! É phoooda!! E com todo respeito, discordo totalmente desta versão romantizada da saudade... Amor de pai, filho, irmão, amigo... o amor da cria, o amor fraterno, estes são muito diferentes do amor de homem e mulher. Casal foi feito para ficar junto. Falo com propriedade porque tive que ficar 3 anos **ininterruptos** longe da minha mulher! E mesmo com todas as facilidades advindas de internet, celulares, pagers, etc, é PHODA!

Espero que seus intervalos de ausência não sejam tão longos e que uma solução mais duradoura já esteja se formando no horizonte.

Beijo,
Rosamaria disse…
Saudade dói de qualquer jeito, Grazi. Ainda bem que a essa hora já mataste a tua.

Bonito o que a Clélia escreveu da Clarice Lispector!

Bjão e boas férias, bom carnaval.
*




em algum momento, uma solução se materializa.
e tomara que seja a solução que vc deseja.





*
A saudade só dá pra suportar quando ela tem prazo de validadee, quando ela tem data pra acabar. E mesmo assim, tem que ser prazo curto. Saudade eterna só faz sofrer. Não compensa.

Postagens mais visitadas deste blog

Pombas, Veríssimo!

Sabe, leio sempre a coluna do LFV na Zero Hora, segunda e domingo, sempre que sai. Gosto muito dos textos, pelo bom humor e pelo estilo de escrita do nobre escritor. Mas hoje cheguei a reler duas vezes a sua coluna , porque não reconheci ali um texto do LFV. Não poderia ser o LFV que leio sempre e recomendo. Me perguntei: Onde estaria o nobre escritor naquele momento que aquela crônica estava sendo escrita? Pensei:Não, ele não seria capaz de tanta indelicadeza. Ou melhor, ele não seria tão grosseiro assim. E depois, um homem tão inteligente como o nobre escritor não seria capaz de generalizar e escrever sem conhecimento sobre um assunto! Não seria o LFV que estaria escrevendo “achismos” por aí... O então LFV escritor renomado e querido por todo povo gaúcho aparece nesta segunda- feira, na página 03 da Zero Hora, jornal de grande circulação em nosso Estado com a seguinte afirmação: Pombas são dissimuladas e de péssimo caráter . Profissionais de relações públicas devem venerar as pomba...

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Cecília Meireles Gostaria de ter escrito esta poesia. Porque é m inha preferida, porque me descreve bem. Tinha 13 a primeira vez que li. Sigo relendo. Eu e minhas intermináveis fases. Não que sejam muitas, são fases que se alternam: que vão e que vem. num secreto calendário, inventando não sei bem por quem. Fases de andar escondida. Fases de ir para a rua. Fases de ser sozinha, ser de ninguém. Fases de ser tua, mas neste dia, não é seu dia de ser meu. E assim, não me encontro com ninguém. quando chega neste dia, o o...

o mal do século

Nos últimos tempos explodiram noticias na mídia sustentadas na estatística de que há mais ou menos 7 mulheres para cada homem. Os homens irão perguntar onde estão suas outras 6 mulheres, outros ainda perguntarão - cadê as 7? Há uma discussão em torno da escassez da espécie masculina na terra. Algumas matérias mostraram que o problema é devido à má distribuição, sim! Há locais em que sobram homens, outros sobram mulheres. Será isso campanha para o turismo nas regiões de má distribuição? Não sei. Não tenho dados concretos. Mas podemos tentar um intercambio... Mas é engraçado como o assunto entre mulheres solteiras gira em torno disto, principalmente nesta época, em que mais uma data criada pelo comércio se aproxima. É no dia 12 de junho que o mercado te cobra por você não estar namorando. Como assim não está? Você precisa gastar um pouco mais comprando um presente em junho para aquecer as vendas... Algumas solteiras constrangidas pela repórter no telejornal de ontem, ao responderem que e...